sexta-feira, 15 de julho de 2011

Salvos pela água- Ornitorrincos e équidnas

          Restam hoje apenas duas espécies de mamíferos ovíparos no planeta- o ornitorrinco, que apresenta um bico semelhante ao dos patos, e a équidna, ou tamanduá espinhoso. Esses monotremados exóticos dominavam a Austrália até que seus primos com bolsas abdominais, os marsupiais, invadiram o território australiano entre 71 milhões e 54 milhões de anos atrás e os venceram. Novas pesquisas sugerem que esses dois tipos de criaturas conseguiram sobreviver porque seus ancestrais se refugiaram na água.
         Antes de chegarem à Australia, os marsupiais migraram da Ásia para as Américas e Antártida. Obrigados a competir com todos os animais pelo caminho, os marsupiais foram preparados para a competição, o que lhes proporcionou um sucesso extraordinário quando chegaram ao território australiano, explica o biólogo evolucionário Mathew Phillips, da Australian National University, em Camberra. " A questão é : 'Por que os monotremados sobreviveram?'"
         Phillips e seus colegas sugerem que os ornitorrincos e équidinas sobreviveram à invasão dos marsupiais porque seus ancestrais procuraram refúgio onde aqueles não poderiam seguí-los : ana água. Quano os marsupais nascem precisam mamar constantemente por semanas e, assim, os recém-nascidos se afogariam se suas mães tivessem de nadar por certo período.
Ornitorrinco
Équidna

        A teoria parece plausível para os ornitorrincos, criaturas anfíbias. As équidnas, no entanto, vivem somente em terra. Os investigadores utilizaram a genética para encontrar a resposta. Descobriram que as équidnas se desviaram dos ornitorrincos apenas entre 19 a 48 milhões de anos atrás, o que significa que tiveram ancestrais semiaquáticos e posteriormente reciolonizaram a terra. Uma série de características das équidnas como corpos hidrodinâmicos, membros posteriores que se projetam para trás de forma a poderem servir de leme, e os contornos de um bico como os dos patos durante o desenvolvimento embrionário indicam que podem ter tido um precursor semelhante ao ornitorrinco.
        Um estudo anterior com fóssies mais antigos de monotremados sugeriu que o ornitorrinco e a équidna distanciaram-se há mais de 110 milhões de anos, bem antes do que indica a análise genética. A equipe de Phillips, entretanto, reanalisou 439 características desses fósseis antigos e conclui que équidnas e ornitorrincos recém-evoluídos eram melhor agrupados juntos que em relação a fósseis mais antigos. A reconstrução das linhagens sustenta as descobertas genéticas dos pesquisadores, divulgadas on-line em 23 de setembro Na Proceedings of the National Academy of Sciences, USA. "Agora os genes e ossos parecem estar contanto a mesma história, o que é encorajador", observa o mamologistta (especialista em mamíferos) Robin Beck, do Museu Americano de História Natural em Nova York, que não participou da pesquisa.
        Até agora os pesquisadores não encontraram evid~encia fóssil da transição de uma équidna a partir da água. Os registros fósseis dos monotremados são ainda bem incompletos, comenta Beck. No entanto, um bom número de sítios arqueológicos na Austrália data de 20 a 25 milhões de anos atrás, a partir de quando os cientistas acreditam que as équidnas tenham evoluído. "Com um pouco de sorte, futuras expedições a esses sítios encontrarão fósseis de équidnas que documentem a ocorrência de uma transição a partir de uma forma semelhante à do ornitorrinco", acrescenta.
       A presença em monotremados da postura de ovos e outros traços primitivos de ancestrais distantes, como a cintura escapular reptiliana, são sempre citados como razão para sua aparente inferioridade, observa Phillips. As novas descobertas ajudam a dar novo enfoque, agora positivo, a essas características arcáicas. Por exemplo, embora ombros repitialinos sejam inadequados para correr rápido, permitem braçadas fortes, de forma que os ombros grandes e a musculatura do braço ajudam a équidna a cavar a terra e o ornitorrinco, a manobrar na água. "Muitos répteis possuem esses traços 'primitivos' e, ainda assim, em termos de número de espécies, são mais bem-sucedidos que qualquer grupo de mamíferos", coclui Phillips.


Saiba que...
          O ornitorrinco, um animal peludo com bico de pato e dentes, patas palmípedes e cauda achatada tem características genéticas comuns aos répteis, aves e mamíferos, segundo confirma o seu genoma. De acordo com estudo desenvolvido por um grupo internacional de pesquisadores, e publicado na última edição da revista "Nature", o Ornithorhynchus anatinus seria uma "mistura de características pertencentes a um reptiliano ancestral e derivadas dos mamíferos" e com alguns dos seus 52 cromossomas correspondendo aos das aves.
          Este animal incomum de 40 centímetros de comprimento que vive na Austrália e na Tasmânia põe ovos e amamenta as crias, pertencendo por isso à ordem dos monotrematas, tem a pele adaptada à vida aquática e o macho segrega um veneno comparável ao das cobras.
          "A mistura fascinante de traços no genoma do ornitorrinco fornece muitos índices sobre a função e evolução de todos os genomas dos mamíferos", sublinha num comunicado o principal autor do estudo, Richard Wilson, diretor do Centro do Genoma da Universidade de Washington.
" Trata-se de um animal "único" por ter conservado as características dos répteis e dos mamíferos "
          Trata-se de um animal "único" por ter conservado as características dos répteis e dos mamíferos, uma especificidade que a maioria destes perdeu ao longo da evolução - assinala Wes Warren, também da Universidade de Washington.
          O seqüenciamento do genoma do ornitorrinco foi realizado com base numa fêmea chamada Glennie que vive na Austrália, na Nova Gales do Sul. Depois de compararem este genoma com os do homem, do cão, do rato, do gambá e da galinha, os pesquisadores concluíram que partilha com estes 82% dos seus genes. No total, tem cerca de 18.500 genes, dois terços dos do homem.
          Entre as suas originalidades, o ornitorrinco nada com os olhos, as orelhas e as narinas fechadas, e serve-se de receptores sensoriais no bico para detectar os fracos campos elétricos das presas debaixo da água. Como não tem tetas, o leite sai da pele para as crias, como nos marsupiais.
          Este animal, um dos mais primitivos do ponto de vista evolutivo, chegou pela primeira vez ao Museu de História Natural de Londres em 1799, vindo da Austrália, para espanto dos naturalistas que o estudaram.

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