sexta-feira, 8 de julho de 2011

No Ano Internacional da Química - Perdemos uma figura ilustre

Morreu na noite de domingo 19 de junho de 2011, no Rio de Janeiro, aos 90 anos, o químico naturalizado brasileiro Otto Richard Gottlieb, conhecido internacionalmente por seus trabalhos sobre produtos naturais e metabolismo de plantas. Ele foi um dos primeiros grandes cientistas a chamar atenção para a sustentabilidade e a preservação de florestas, ainda na década de 1960.
Mais recentemente, nos anos de 1980, o químico mostrou a importância da manutenção dos entornos das florestas --justamente onde costuma ter início o processo de desmatamento. É nessas "bordas" florestais, mostrou Gottlieb, que está a maior concentração e diversidade de moléculas. "Com o desmatamento dos entornos, parte das moléculas que contam com potencial terapêutico acaba sendo perdida", explica a farmacêutica Maria Renata Borin.
Ela foi "pupila" de Gottlieb desde seu mestrado, em química orgânica, na USP, até sua pesquisa de pós-doutorado sobre química de produtos naturais, na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). "Toda a obra dele é voltada para a sustentabilidade." Foram quase 700 artigos científicos sobre o tema.
 dedicou sua vida ao estudo de espécies arbóreas da Amazônia, porque havia pouco conhecimento sobre essas espécies, além de uma acelerada devastação do bioma. Em 1967 proferiu a palestra Jacarandá 400 anos de marcenaria 4 anos de química.

QUASE NOBEL

Gottlieb é considerado o cientista brasileiro que mais chegou perto do prêmio Nobel: foi indicado três vezes (em 1998, 1999 e 2000). "Mas ele não dava muita bola para isso. Atender os alunos era o que ele mais gostava de fazer", conta Borin. "Ele costumava refletir toda noite sobre o que aprendeu no dia para que pudesse ensinar isso no dia seguinte."
A dedicação aos alunos levou o químico a construir uma biblioteca própria sobre recursos naturais, com aproximadamente 2.000 títulos. O tempo que ele passava nessa biblioteca --que ocupa um apartamento inteiro no Rio de Janeiro-- teria sido um dos motivos de seu desligamento da Fiocruz, em 2002. Insatisfeita, a instituição teria cortado recursos das suas pesquisas em andamento. Na época, aos 81 anos, ele afirmou que não estava "sendo tratado com consideração" pela Fiocruz. Foi, então, para a UFF (Universidade Federal Fluminese).
Antes, Gottlieb já havia sido professor na USP até se aposentar, aos 70 anos. "Ele recebeu convites para dar aula fora do país. Mas era nacionalista convicto." Gottlieb era naturalizado: ele nasceu em Brno (Onde Mendel desenvolveu seus trabalhos com ervilhas), em 1920, hoje República Tcheca.

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