sábado, 30 de julho de 2011

Novo biomaterial permite reconstrução da face sem cirurgia

                 Um grupo de pesquisadores da Universidade Johns Hopkins criou um biomaterial capaz de permitir a reconstrução de estruturas mais delicadas, como o rosto humano, sem a necessidade de cirurgias. O material, que contém componentes sintéticos e biológicos, pode ser injetado sob a pele como um líquido, massageado até alcançar o molde desejado e, aí sim, permanentemente fixado por meio de exposição à luz.
                O novo tipo de transplante criado por Alexander Hillel e seus colegas promete acabar com deformidades e estresses emocionais causados por tecidos e ossos metálicos ou plásticos que já existem no mercado. O biomaterial é uma mistura de ácido hialurônico, um material biológico já utilizado no implante de tecidos moles, e glicol polietileno, um material sintético.
               Depois de injetado e exposto a uma luz de comprimentos de onda específicos, o emaranhado confuso de cadeias de polímeros no implante líquido consegue ser reorganizado de uma forma estável, enrijecendo o implante.
             O fato do implante utilizar luz LED, que é visível, é muito importante, de acordo com Farshid Guilak, professor de ortopedia e engenheiro biomédico na Universidade de Duke. “Luz visível é muito mais segura do que luz UV, que pode causar muitos efeitos colaterais, como danos ao DNA e morte das células”.
Ali Khademhosseini, professor substituto da Divisão de Ciência e Tecnologia de Hardvard, diz que o estudo já está sendo feito em seres humanos.
              A luz LED utilizada penetra pelo menos quatro milímetros na pele e demora só dois minutos até o fim da exposição para estar completamente fixada no lugar. Não há efeitos colaterais, prometem os médicos envolvidos na pesquisa.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Será que realmente é necessário?

Coreia do Sul anuncia ter criado cão modificado geneticamente que brilha

Beagle Tagon fica fluorescente sob luz ultravioleta, segundo pesquisadores.
Pesquisa pode ajudar a descobrir cura de doenças em humanos.

Da Reuters
Cientistas da Coreia do Sul afirmaram na quarta-feira (27) que criaram um cão que brilha, usando uma técnica de clonagem que pode ajudar a curar doenças em humanos, como os males de Alzheimer e Parkinson. A informação é da agência Yonhap.
Uma equipe da Universidade Nacional de Seul disse que a beagle fêmea, batizada de Tegon e nascida em 2009, fica com um brilho verde fluorescente sob luz ultravioleta, quando toma um certo tipo de antibiótico, a doxiciclina
A cadela Tagon e seus filhotes (Foto: Reuters)A cadela Tagon e seus filhotes (Foto: Reuters)
Dois anos de testes foram feitos. A habilidade de brilhar pode ser "ligada e desligada", adicionando-se ou não a droga à comida da cadela.
"A criação de Tegon abre novos horizontes, uma vez que o gene injetado para fazer a cadela brilhar pode ser substituído por genes que causam doenças graves em humanos", disse Lee Byeong-chun, o pesquisador-chefe, segundo a agência.
Ele disse que o cão foi criado usando tecnologia de tranferência de material nuclear de células que a universidade usou para fazer o primeiro cão clonado do mundo, Snuppy, em 2005.
Segundo ele, como há 268 doenças em comum entre humanos e cãos, criar cães que mostram esses sintomas artificialmente pode ajudar a criar tratamentos para doenças que afligem os humanos.
A pesquisa tomou quatro anos e gastou US$ 3 milhões, segundo a Yonhap. Os resultados saíram na publicação internacional 'Genesis'
 Patinha de Tagon 'brilha' quando submetida a luz ultravioleta (Foto: Reuters)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Gosta de Conversar?

Alguns anos atrás, se você dissesse em uma roda de geneticistas que estava pesquisando o gene (ênfase na singularidade!) responsável pela evolução da linguagem em humanos, com certeza não seria levado muito à sério.

A habilidade de linguagem é característica distintiva da espécie humana e certamente pré-requisito para a evolução de nossa cultura e civilização. A capacidade de articular pensamentos em palavras certamente dependeu de inovações anatômicas da faringe e boca, assim como do cérebro. Por essas e outras razões, qualquer pessoa imaginaria que o surgimento da habilidade de linguagem dependeria da evolução de vários genes.

Este palpite é muito provavelmente correto. Porém, muitos imaginavam que qualquer gene, quando estudado em isolamento, pouco revelaria sobre a evolução da linguagem. Este último palpite parece hoje estar errado!

Na década de 90 uma família inglesa chamou a atenção da comunidade científica, pois aproximadamente metade dos membros possuíam, entre outros defeitos, problemas em movimentos faciais e dos lábios, e a incapacidade articular palavras.

Em 2001, pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra identificaram uma mutação associada à doença. O gene: Foxp2. O aspecto mais interessante do achado que poucos comentam: o gene é um fator de transcrição. Este tipo de proteína se liga no DNA para controlar a expressão de múltiplos genes. Ou seja, mutações no Foxp2 tem o potencial de alterar a produção de múltiplos genes, o que possivelmente explica o conjunto de defeitos presentes na família inglesa mencionada acima.

Quando comparada com a seqüência de outros primatas, a versão (haplótipo) humana do Foxp2 possui um padrão único de seqüência de aminoácidos que indica seleção positiva, ou seja: este gene esteve evoluindo rapidamente na linhagem que levou ao homem. A análise de DNA de neandertal revelou que estes já possuíam o haplótipo do homem moderno.

O tema voltou à tona pois o grupo do Dr. Svante Pääbo, do Instituto Max-Planck em Leipzig, Alemanha, gerou um camundongo onde o gene do Foxp2 foi alterado para se assemelhar ao haplótipo humano. O camundongo não saiu falando, mas exibiu alterações de comportamento, algumas alterações no cérebro, e o mais esperado: alteração na vocalização!

O Foxp2 pode não ser o “gene da linguagem”, e com certeza muito menos o “gene da gramática”, como alguns ousaram reportar. Mas certamente parece ter tido papel importante na evolução da capacidade da fala em humanos.

Recentemente, um grupo japonês gerou um macaco sagüi transgênico, contendo o gene que codifica a proteína fluorescente GFP, abrindo caminho para a transgenia em primatas não-humanos. O que aconteceria com um primata não-humano contendo a cópia humana do Foxp2?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Destino do Lixo. Vale a pena ler...ENEM 2011 e todos os demais ENEMs

O destino do lixo

A quantidade de lixo produzida no Brasil está próxima ao que se produz nos países ricos europeus, 1 kilograma por pessoa ao dia. Para ter dimensão do isso significa basta fazer uma conta simples: somos 190 milhões de habitantes, logo produzimos 190 mil toneladas de lixo ao dia. É muito lixo mesmo, e vc , meu caro leitor, já para pensar sobre o tamanho desse problema? Por ano são 69 milhões e 350 mil toneladas de lixo daria para encher quase 70 estádios Macaracanãs. Infelizmente, metade desse lixo é descartado a céu aberto, o resto vai para aterro, uma solução comum porém cara e pouco eficiente.
Esquema de um aterro controlado
No Brasil a maioria dos aterros está perto do seu limite de utilização e logo não poderá receber mais lixo. Só na cidade de São Paulo 16 aterros já foram desativados. Bandeirantes, o maior deles funcionou por 30 anos recebeu, inacreditáveis, 36 milhões e ainda tem capacidade de receber quantidade adicional de lixo, mas há necessidade de estudos complementares segundo estudos realizados por engenheiros sanitários. O que parecia ser uma montanha de problemas passou a ser fonte de energia. É isso mesmo , fonte de energia!
 Uma usina termoelétrica foi construída, com autorização da prefeitura e recursos da iniciativa privada e hoje produz energia elétrica para uma cidade com 400 mil habitantes. É uma energia limpa que antes era desperdiçada para a atmosfera emanando gás metano que é um dos gases responsáveis pelo aquecimento global. A empresa ampliou a atividade para uma segunda unidade de produção de energia elétrica em outro aterro sanitário na zona leste da capital paulista. Os técnicos afirmar que o procedimento deve ser estudado desde o início da instalação do aterro sanitário para que haja melhor aproveitamento do gás produzido e se faça um maior aproveitamento com maior produção de energia elétrica.
Usina Termoelétrica
Os aterros sanitários de São Paulo são, infelizmente, os únicos do país que aproveita o gás metano procedente da decomposição da matéria orgânica para a produção de energia elétrica. Em cada aterro foram investidos 80 milhões de reais e além de produzir energia limpa eles geram crédito de carbono para a prefeitura de São Paulo e para os investidores. A rentabilidade de 15% ao ano levou o negócio levou o negócio ainda mais longe. O famoso aterro Gramacho (Jardim Gramacho), no Rio de Janeiro, logo deve receber uma usina termoelétrica. Segundo, uma dos investidores, “hoje buscasse novas formas de geração de energia a partir dos resíduos urbano. O resíduo orgânico é um importante fonte de energia e não pode simplesmente ir para o lixo. E os aterros já existentes, o aproveitamento do biogás ali existente é viável e muito rentável, completa.”
Jardim Gramacho.
Mas não basta o empresário do lixo fazer a sua parte, o governo federal necessita criar leis que dêem condições para o setor sendo necessário haver mais investimentos no parque industrial reciclador. De acordo com os empresário do lixo há muito o que investir, mas o governo precisa ajudar, afirma um dos representantes das empresas de reciclagem. Um das medidas já tomadas foi a redução de impostos. Estudos feitos pelo IPEA mostra que as oportunidades da reciclagem do lixo pode chegar a casa dos 8 bilhões só na questão das embalagens para a reciclagem. Hoje são gerados 3 bilhões de reais anuais por conta das embalagens e estão sendo desperdiçados 5 bilhões de reais.
Triturar entulho, reciclar lixo eletrônico, extrair energia de aterros são enormes as possibilidades. Segundo os empresários do lixo, a proposta é fazer negócio com sustentabilidade e fazer da sustentabilidade um negócio. Vamos pensar nisso.... (por Edson Luiz de Oliveira transcrição do vídeo http://terratv.terra.com.br/Noticias/Brasil/4194-373211/SP-e-o-unico-Estado-que-transforma-metano-em-eletricidade.htm)

Saiba que..
Aterro Sanitário
A ABNT (1984) - Associação Brasileira de Normas Técnicas apresenta a seguinte definição: “Técnica de disposição de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) no solo, sem causar danos à saúde pública e sua segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os RS a menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores se for necessário”. Esta técnica minimiza a proliferação de micro e macro vetores, diminuindo os riscos de contaminação direta, além de permitir o controle efetivo da poluição do ar, fumaça e odores, reduzir os riscos de incêndio, poluição das águas superficiais e subterrâneas e ainda da poluição estética.
Aterro Controlado
A diferença básica entre um aterro sanitário e um aterro controlado é que este último prescinde da coleta e tratamento do chorume, assim como da drenagem e queima do biogás. No mais, o aterro controlado deve ser construído e operado exatamente como um aterro sanitário. Normalmente, um aterro controlado é utilizado para cidades que coletem até 50 toneladas/dia de resíduos urbanos, sendo desaconselhável para cidades maiores. Diversos estudiosos concluem que aterro controlado é um lixão melhorado, portanto, longe de ser a alternativa correta, que é um aterro sanitário.
Lixão
Forma ambientalmente inadequada de disposição de resíduos sólidos no solo, acarretando problemas à saúde pública e um impacto ambiental de dimensão incalculável.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Receita de Sustentabilidade - Um pouco sobre combustíveis (O ENEM GOSTA)

          A forma mais atual de expressão material do princípio de Lavoisier é a biorrefinaria, cujo conceito foi criado na esteira dos esforços da nossa civilização industrial para uma era do pós-petróleo.
          O próprio conceito de refinaria de petróleo evoluiu muito, desde a refinaria Kier, de 1853, em Pittsburg (Estados Unidos). As primeira delas apenas destilavam o petróleo, separando as frações desejadas, que eram vendidas como gasolina, querosene, óleo lubrificante, graxa e piche. O resto, embora volumoso, era queimado.
Refinaria de Petróleo
           Um refinaria de petróleo atual é uma rede complexa de unidades que fracionam e transformam quimicamente o petróleo, gerando os mesmo produtos do início do século passado, gás engarrafado e mais um grande número de substâncias químicas usadas em combustíveis, plásticos, borrachas, produtos de higiene e limpeza, medicamentos, vestuário, materiais de construção civil, telefones celulares e fertilizantes.           
            Não disporíamos nem mesmo de gasolina, diesel e querosene nas quantidades atuais sem o processo de craqueamento, que transforma moléculas grandes e pouco úteis naquelas que podem ser queimadas nos motores e nas turbinas de carros, caminhões, aviões, locomotivas e navios.
            As refinarias de petróleo são hoje a principal fonte de enxofre, matéria-prima essencial do ácido sulfúrico, que, por sua vez, participa dos processos de fabricação de praticamente todo produto industrial. Também sai das refinarias a maior parte do hidrogênio produzido atualmente.
            Hidrogênio e ácido sulfúrico são usados para fabricar os fertilizantes, que sustentam a produção agrícola necessária para alimentar a humanidade
            Ao se pensar em biorrefinarias, é importante lembrar como começou a produção de álcool de cana em grande escala, um grande sucesso brasileiro de pesquisa, desenvolvimento e inovação, reconhecido em todo o mundo.
           O principal produto da cana foi – e ainda é – o açúcar usado como alimento. Entretanto, a fabricação do açúcar gera um resíduo liquido que ainda contém sacarose, mas do qual é difícil recuperá-la. Para evitar o descarte desses resíduos poluentes, usinas passaram a fermentá-los com levedura (tipo de fungo), produzindo álcool em destilarias anexas.
           Só na década de 1970, com as primeiras crises do petróleo, surgiram usinas totalmente dedicadas à produção de álcool. Portanto, a produção conjunta de açúcar e álcool foi o estágio inicial de um processo que vem se ampliando e se tornando cada vez mais complexo.
         O principal produto da cana foi – e ainda é – o açúcar usado como alimento. Entretanto, a fabricação do açúcar gera um resíduo liquido que ainda contém sacarose, mas do qual é difícil recuperá-la. Para evitar o descarte desses resíduos poluentes, usinas passaram a fermentá-los com levedura (tipo de fungo), produzindo álcool em destilarias anexas.
Canavial
        Só na década de 1970, com as primeiras crises do petróleo, surgiram usinas totalmente dedicadas à produção de álcool. Portanto, a produção conjunta de açúcar e álcool foi o estágio inicial de um processo que vem se ampliando e se tornando cada vez mais complexo.
         Houve episódios marcantes no aproveitamento químico da cana. Na década de 1920, a Usina Serra Grande (Alagoas) produziu o ‘Usga’, combustível para automóveis a gasolina feito de etanol, éter etílico (fabricado com etanol) e óleo de mamona.      Em 1942, foi instalada uma grande usina alcoolquímica em uma área vizinha a Campinas (SP), hoje pertencente ao município de Paulínia. Essa foi uma das primeiras grandes usinas alcoolquímicas no mundo.
         Na Segunda Grande Guerra (1939-45), houve no Brasil carência de gasolina, e a alternativa usada na época foi o gasogênio (mistura de gases obtida pela queima parcial do carvão ou madeira), pouco eficiente. Naquela altura, o Brasil estava ainda longe do domínio da tecnologia do álcool e dos carros à base desse combustível – para não falar da tecnologia flex.
           Hoje, o número de produtos derivados do canavial já é grande e diversificado: o açúcar é matéria-prima de numerosos outros produtos, desde a lisina (aminoácido que ajuda no crescimento dos ossos, cartilagens e outros tecidos) para a alimentação humana e animal até detergentes, solventes 'verdes' e plásticos.
           O número de derivados da sacarose produzidos industrialmente está aumentando, graças a disponibilidade, pureza e riqueza química de açúcar. Por outro lado, a celulose do bagaço da cana é usada para fabricar papel; as cinzas, bem como a vinhaça, são utilizadas na reposição de nutrientes no solo, e o gás carbônico é empregado na gaseificação de bebidas.
             Mesmo com todas essas aplicações - ou, talvez, devido ao sucesso delas -, o aumento na produção de cana motiva a busca contínua de novas formas de aproveitamento de todos seus resíduos, transformando-os em novos produtos valiosos, como já acontece com o álcool. Isso também motiva a melhoria na qualidade do aproveitamento, por meio de processos geradores de produtos de maior valor agregado que os atuais.
             Como no caso da cana, a química tem sido pródiga em transformar problemas em soluções, mas também em criar dificuldades, algumas ´serias. Nas últimas décadas, a indústria química mostrou ter aprendido e avitar o papel de criadora de problemas, corrigindo erros graves do passado.
             Caso notável é o da transformação de lixo em combustível líquido, em escala idustrial. Por exemplo, na região de Campinas- SP, ocorre um fenômeno preocupante: muitos municípios não têm onde colocar seu lixo urbano e o estão enviando a um depósito existente em Paulínia. Pois, nesta última cidade, está hoje instalada uma empresa que processa lixo, transformando-o em combustíveis líquidos em uma escala industrial.
             Esse poderá ser o embrião de um maravilhoso exemplo de alquimia deste século: lixo transformado em combustível líquido, qie é hoje sinônimo de riqueza.
      


segunda-feira, 18 de julho de 2011

A EPIDEMIA DE DIABETES

          Segundo especialistas em endocrinologia, nutrição e nutrologia uma epidemia de diabetes espalha-se pelo Brasil e pelo mundo. Embora parece soar estranho, uma vez que estamos acostumados a utilizar o termo epidemia para caracterizar casos de doenças infectocontagiosas, o número de casos de diabetes segue os critérios epidemiológicos exigidos para caracterizar uma epidemia.
          De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) há cerca de 5,1% da população mundial com idade entre vinte e 79 anos sofra da doença. A Diabetes mellitus é a condição crônica que surge quando o pâncreas se torna incapaz de produzir (diabetes tipo I), ou quando o organismo não consegue fazer uso adequado da insulina produzida (diabetes tipo II). A insulina é um hormônio de natureza protéica que é responsável pelo controle da taxa de glicose no sangue, ou seja, a glicemia. A insulina  reduz a taxa de glicose no sangue, ou seja, é hipoglicemiante. Cerca de 90% dos casos de diabetes tercetencem ao tipo II, e apenas 10% são do tipo I. Há também casos de diabetes gestacional, que são bem mas raros e o subtipo Mody. A diabetes tipo MODY (Maturity-Onset Diabetes of the Young) é um subtipo da diabetes Mellitus, caracterizado por manifestação precoce (em geral abaixo dos 25 anos de idade) e com transmissão autossómica dominante (determinada em pelo menos três gerações). Corresponde a um defeito primário na secreção da insulina, associada a disfunção na célula β pancreática.
          No caso da diabetes tipo I, mais frequente em crianças e adolescentes, há envolvimento de fatores genéticos, contudo suas causas não encontram-se completamente esclarecidas. Na diabetes tipo II, que se instala preferencialmente na maturidade, as causas encontram-se ligadas ao excesso de peso (obesidade), a inatividade física (sedentarismo) e as dietas ricas em gorduras e em alimentos de alta densidade energética (a dieta da modernidade).
          Estudos efetuados nos últimos vinte anos mostram que a obesidade é uma fator de risco para o aparecimento de diabetes tipo II. Contudo, esse risco pode variar de acordo om o grupo estudado. Os indígenas são particularmente susceptíveis à associação obesidade-diabetes. Indios pima, do estado do Arizona, apresentam a maior incidência do mundo: cerca de 50% dos adultos apresentam essa enfermidade.
          O tecido adiposo foi visto durante um período dos estudos bioquímicos como sendo responsável pelo armazenamento de energia para ser disponibilizada quando o organismo precisasse. Atualmente, sabe-se que além de ser responsável pela estocagem de gorduras, o tecido adiposo faz parte do sistema endócrino, pois produz e secreta hormônios que são lançados na corrente sanguínea. Na década de 1990, mais precisamente em 1994 foi anunciada a descoberta a leptina, uma substância secretada pelo tecido adiposo e com capacidade de atuar em centros cerebrais controlando a saciedade, com objetivo de inibir o apetite e evitar o acumulo de tecido adiposo , ou seja a obesidade, e consequentemente, condições como o diabetes. O interessente e ainda não esclarecido é que embora os indivíduos obesos produzam leptina em grande quantidade, manifestam resistência as seu efeito inibidor de apetite. Essa resitência mantém a obesidade e aumenta a chance de desenvolver diabetes.
           Dois hormônios produzidos pelo tecido adiposo foram descritos recentemente: a resistina e a adiponectina. A resistina , age opostamente ao efeito da insulina, promovendo aumento da glicemia. Já a adiponectina facilita a ação da insulina e reduz o risco de diabetes. Na pessoas obesas há aumento na produção de resistina e redução na produção de adiponectina, o que resulta em uma composição hormonal que favorece o desenvolvimento da diabetes.
            A atual epidemia de obesidade não tem poupado crianças e adolescentes o que tem aumentado assustadoramente o número de indivíduos com diabetes do tipo II nessa faixa etária.A perda de massa corporal de 5% a 10% pode prevenir ou pelo menos retardar o aparecimento de diabetes vinculada ao ganho de acúmulo de tecido adipodo característico da obesidade. Assim, dieta saudável e atividade física frequente reduzem o risco de obesidade e instalação da diabetes. Estudos científicos mostram que em homens ou mulheres entre 40 e 65 anos , com excesso de peso,  a adoção de uma dieta adequada e atividade física favorece a perda de massa e retarda ou até mesmo evita a instalação da diabetes. Os resultados experimentais mostram que quanto maior a perda de peso, mais baixa a probabilidade de desenvolvimento da diabetes.
          A ingestão crônica calórica acima do total que o organismo precisa leva em associação com fatores genéticos e ambientais leva á obesidade o que favore a instalação da diabetes. Reduziram a ingesta de alimentos e caminhar 30 minutos diários são receitas simples que reduzem a massa corporal e diminuem o risco de uma grave enfermidade que altera padrões de dião, favorece acidentes vaculares cerebrais , predispõe a ataques cardíacos, determina amputações de membros e conduz a falência renal. Que tal então como afirma o Dr. Drauzilo Varella. "É muito sacrífico andar pelo menos 30 minutos por dia?
(Fonte: Texto extraído do livro Borboletas da Alma , Companhia das LÇetras, Drauzio Varella).

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Alterações No Código Florestal afetam todos os brasileiros




Texto extraído na íntegra...Revista Ciência Hoje edição Julho de 2011

          Desde 1934 o Brasil tem legislação específica que rege a exploração dos seus recursos naturais. O atual Código Florestal data de 15 de setembro de 1965 e preserva recursos naturais, bens de interesse comum a todos os brasileiros, como expresso em seu artigo 1º, estabelecendo regras de ocupação do território nacional de forma a manter tais recursos para as atuais e futuras gerações. Entre essas regras estão limitações à remoção da vegetação nativa existente em propriedades rurais (as chamadas Reservas Legais), de forma a preservar os recursos florestais e a biodiversidade como um todo, e a proteção de encostas e áreas ribeirinhas (as Áreas de Preservação Permanente), com o principal objetivo de garantir estabilidade geológica e prover água potável de qualidade.
         No entanto, essa legislação encontra-se seriamente ameaçada por uma proposta de alteração em tramitação no Congresso Nacional. Segundo os cientistas, a revisão do Código Florestal é desejável desde que se busque modernizar a legislação para servir em plenitude à população brasileira, em função dos avanços sociais e científicos das últimas décadas. As modificações incluídas na atual proposta, no entanto, não cumprem esse papel e, ao contrário, negligenciam o conhecimento científico acumulado nos últimos 30 anos.Foram inúmeras as tentativas, seja de cientistas isoladamente ou de suas instituições representativas, de apontar as graves falhas dessa proposta, que apresenta enorme potencial para agravar os graves problemas ambientais que enfrentamos, ameaçando seriamente não só a cadeia produtiva agropecuária, mas também a vida de todos os brasileiros.
         Os riscos oferecidos pelas alterações, principalmente as que reduzem as Áreas de Preservação Permanente e as Reservas Legais, estão relacionadas à perda de serviços ambientias, benefícios fundamentais para o nosso bem-estar que obtemos a partir do funcionamento dos ecossistemas, tais como regulação hídrica, fixação de carbono, contenção da erosão, polinização e controle de pragas, entre outros, de inestim´vel valor para o ser humano. É importante ressaltar que a conservação ambiental contemplada no atual Código Florestal não tem como mero intuito a romântica preservação das belezas cênicas ou animais carismáticos, mas sobretudo a manutenção de processos ecológicos que têm alto valor econômico e proporcionam bem-estar e qualiodade de vida à população humana.
        Diversos trabalhos conduzidos por respeitados grupos de cientistas brasileiros indicam que a atual proposta de alteração do Código deve levar não apenas a uma ampla redução da vegetação natural, mas também a perdas diretas na produção agrícola. Esses efeitos podem ser exemplificados pela diminuição de polinizadores, necessários para a produção de grãos (café, castanhas, feijão, soja e outros), legumes e frutas. As flores desses vegetais, importantes na economia e na alimentação humana, geralmente são polinizadas por animais selvagens (insetos, aves e outros) para a produção de vagens, frutos carnosos e semente, fato somente possível quando a vegetação nativa está presente e próxima dos cultivos.
        A perda dos polinizadores, em decorrência da destruição dos ecossistemas onde vivem e se reproduzem, levará à queda da produção agrícola, com aumento dos custos, como aponta estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia para o caso do maracujá. Na ausência da vegetação natural, as abelhas nativas, únicas polinizadoras do maracujá, não sobrevivem, obrigando os produtores a realizar a polinização manual das flores, o que corresponde a cerca da metade dos custos de produção. Exemplos similares foram constatados para uma ampla gama de produtos agrícolas por todo o país, sendo que os estudos evidenciaram menor incidência de pragas e melhor qualidade de grãos em regiões próximas a áreas de vegetação nativa. Além disso, a preservação ambiental também garante a manutenção da diversidade genética de variedades selvagens dos nossos principais alimentos, mantendo assim nossa capacidade de resposta em caso de pragas ou catástrofez globais que afetem seu cultivo.
 
          Diante dessas constatações científicas, é fácil perceber que o antagonismo entre produção agrícola e preservação ambiental é uma falácia, não só pela profusão de terras agriculturáveis garantida pelo atual Código Florestal, mas também por possíveis prejuízos econôminos decorrentes do aumento de gastos necessário para compensar a perda de serviços ambientais prestados gratuitamente pelos ecossistemas naturais. Obviamente, quem pagará por esses custos serão os consumidores finais, ou seja, todos os brasileiros.
          Além disso, argumentar que as mudanças propostas beneficiariam os produores familiares é outra ilusão. A agricultura familiar já é beneficiada por leis que facultam o uso econômico das Áreas de Preservação Permanente, pela adoção de sistemas agroflorestais, que aliam preservação e produção agrícola, e pela possibilidade de implantar pomares, eucaliptais e outras formações de espécies exóticas intercaladas com nativas em suas Reservas Legais, facilitando a recomposição dessas reservas por quem produz nosso alimento. Por esse motivo, os movimentos de agricultores familares se posicionaram radicalmente contra as mudanças em discussão no Congresso.
           A preservação de topos de morros, encostas íngremes e beiras de rios também garante estabilidade geológica, reduzindo riscos de enchentes e deslizamentos, causas de tragédias por todo os Brasil, como recentemente observado no estado do Rio de Janeiro, onde a grande maioria da população afetada vivia em Áreas de Preservação Permanente, em claro desrespeito à legislação ambiental e submetendo-se a sérios riscos. As enchentes e deslizamentos também causam sério prejuízos a atividades agrícolas e pecuárias, evidenciando mais uma vez que as alterações propostas para o Código Florestal, que visariam 'favorecer' a produção no campo. podem na verdade, representar grandes perdas.
          A comunidade científica, como já citado, não se posiciona contra a revisão do Código Florestal. Esse instrumento legal, entretanto, deve ser melhorado a partir do mais moderno conhecimento científico. O Código em vigor foi discutido por espevcialistas por cerca de quatro anos, antes de sua promulgação em 1965.
           Em função da importância estratégica dessa lei, o que ainda se espera é uma ampla discussão baseada no conhecimento acumulado pela ciência. Segundo os especialistas , o momento não é de alteração emergencial do Código, visto que a agricultura nacional quebra recordes de produção e lucratividade safra após safra, ocupando posiçã privilegiada no cenário internacional. É hora de refletirmos, com tempo para uma discussão profunda, que país queremos para nossos filhos, adequando as leis a esse ideal. Isso significa buscar uma agricultura forte e sustentável, somada a um ambiente íntegro, capaz de fornecer os serviços ambientais necessários para nossa própria sobrevivência.

Salvos pela água- Ornitorrincos e équidnas

          Restam hoje apenas duas espécies de mamíferos ovíparos no planeta- o ornitorrinco, que apresenta um bico semelhante ao dos patos, e a équidna, ou tamanduá espinhoso. Esses monotremados exóticos dominavam a Austrália até que seus primos com bolsas abdominais, os marsupiais, invadiram o território australiano entre 71 milhões e 54 milhões de anos atrás e os venceram. Novas pesquisas sugerem que esses dois tipos de criaturas conseguiram sobreviver porque seus ancestrais se refugiaram na água.
         Antes de chegarem à Australia, os marsupiais migraram da Ásia para as Américas e Antártida. Obrigados a competir com todos os animais pelo caminho, os marsupiais foram preparados para a competição, o que lhes proporcionou um sucesso extraordinário quando chegaram ao território australiano, explica o biólogo evolucionário Mathew Phillips, da Australian National University, em Camberra. " A questão é : 'Por que os monotremados sobreviveram?'"
         Phillips e seus colegas sugerem que os ornitorrincos e équidinas sobreviveram à invasão dos marsupiais porque seus ancestrais procuraram refúgio onde aqueles não poderiam seguí-los : ana água. Quano os marsupais nascem precisam mamar constantemente por semanas e, assim, os recém-nascidos se afogariam se suas mães tivessem de nadar por certo período.
Ornitorrinco
Équidna

        A teoria parece plausível para os ornitorrincos, criaturas anfíbias. As équidnas, no entanto, vivem somente em terra. Os investigadores utilizaram a genética para encontrar a resposta. Descobriram que as équidnas se desviaram dos ornitorrincos apenas entre 19 a 48 milhões de anos atrás, o que significa que tiveram ancestrais semiaquáticos e posteriormente reciolonizaram a terra. Uma série de características das équidnas como corpos hidrodinâmicos, membros posteriores que se projetam para trás de forma a poderem servir de leme, e os contornos de um bico como os dos patos durante o desenvolvimento embrionário indicam que podem ter tido um precursor semelhante ao ornitorrinco.
        Um estudo anterior com fóssies mais antigos de monotremados sugeriu que o ornitorrinco e a équidna distanciaram-se há mais de 110 milhões de anos, bem antes do que indica a análise genética. A equipe de Phillips, entretanto, reanalisou 439 características desses fósseis antigos e conclui que équidnas e ornitorrincos recém-evoluídos eram melhor agrupados juntos que em relação a fósseis mais antigos. A reconstrução das linhagens sustenta as descobertas genéticas dos pesquisadores, divulgadas on-line em 23 de setembro Na Proceedings of the National Academy of Sciences, USA. "Agora os genes e ossos parecem estar contanto a mesma história, o que é encorajador", observa o mamologistta (especialista em mamíferos) Robin Beck, do Museu Americano de História Natural em Nova York, que não participou da pesquisa.
        Até agora os pesquisadores não encontraram evid~encia fóssil da transição de uma équidna a partir da água. Os registros fósseis dos monotremados são ainda bem incompletos, comenta Beck. No entanto, um bom número de sítios arqueológicos na Austrália data de 20 a 25 milhões de anos atrás, a partir de quando os cientistas acreditam que as équidnas tenham evoluído. "Com um pouco de sorte, futuras expedições a esses sítios encontrarão fósseis de équidnas que documentem a ocorrência de uma transição a partir de uma forma semelhante à do ornitorrinco", acrescenta.
       A presença em monotremados da postura de ovos e outros traços primitivos de ancestrais distantes, como a cintura escapular reptiliana, são sempre citados como razão para sua aparente inferioridade, observa Phillips. As novas descobertas ajudam a dar novo enfoque, agora positivo, a essas características arcáicas. Por exemplo, embora ombros repitialinos sejam inadequados para correr rápido, permitem braçadas fortes, de forma que os ombros grandes e a musculatura do braço ajudam a équidna a cavar a terra e o ornitorrinco, a manobrar na água. "Muitos répteis possuem esses traços 'primitivos' e, ainda assim, em termos de número de espécies, são mais bem-sucedidos que qualquer grupo de mamíferos", coclui Phillips.


Saiba que...
          O ornitorrinco, um animal peludo com bico de pato e dentes, patas palmípedes e cauda achatada tem características genéticas comuns aos répteis, aves e mamíferos, segundo confirma o seu genoma. De acordo com estudo desenvolvido por um grupo internacional de pesquisadores, e publicado na última edição da revista "Nature", o Ornithorhynchus anatinus seria uma "mistura de características pertencentes a um reptiliano ancestral e derivadas dos mamíferos" e com alguns dos seus 52 cromossomas correspondendo aos das aves.
          Este animal incomum de 40 centímetros de comprimento que vive na Austrália e na Tasmânia põe ovos e amamenta as crias, pertencendo por isso à ordem dos monotrematas, tem a pele adaptada à vida aquática e o macho segrega um veneno comparável ao das cobras.
          "A mistura fascinante de traços no genoma do ornitorrinco fornece muitos índices sobre a função e evolução de todos os genomas dos mamíferos", sublinha num comunicado o principal autor do estudo, Richard Wilson, diretor do Centro do Genoma da Universidade de Washington.
" Trata-se de um animal "único" por ter conservado as características dos répteis e dos mamíferos "
          Trata-se de um animal "único" por ter conservado as características dos répteis e dos mamíferos, uma especificidade que a maioria destes perdeu ao longo da evolução - assinala Wes Warren, também da Universidade de Washington.
          O seqüenciamento do genoma do ornitorrinco foi realizado com base numa fêmea chamada Glennie que vive na Austrália, na Nova Gales do Sul. Depois de compararem este genoma com os do homem, do cão, do rato, do gambá e da galinha, os pesquisadores concluíram que partilha com estes 82% dos seus genes. No total, tem cerca de 18.500 genes, dois terços dos do homem.
          Entre as suas originalidades, o ornitorrinco nada com os olhos, as orelhas e as narinas fechadas, e serve-se de receptores sensoriais no bico para detectar os fracos campos elétricos das presas debaixo da água. Como não tem tetas, o leite sai da pele para as crias, como nos marsupiais.
          Este animal, um dos mais primitivos do ponto de vista evolutivo, chegou pela primeira vez ao Museu de História Natural de Londres em 1799, vindo da Austrália, para espanto dos naturalistas que o estudaram.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Quando os híbridos são férteisCruzamentos improváveis podem gerar novas espécies de plantas e animais

Darwin, além de talento, teve sorte. Ao chegar ao arquipélago de Galápagos, no Pacífico, encontrou uma rica variedade de tartarugas e aves vivendo sob condições ambientais peculiares, como o isolamento geográfico e a dieta, que devem ter influenciado fortemente sua evolução ao longo de milhões de anos. As prováveis causas do fato de haver tantos animais tão semelhantes entre si – as aves, por exemplo, com o bico mais curto ou mais longo, dependendo do que comiam – pareciam claras. Mas o mundo não é só como Galápagos. Os biólogos de hoje, mesmo estudando espaços ricos em biodiversidade como a mata atlântica, nem sempre encontram histórias evolutivas e espécies próximas com diferenças tão claras entre si. Em compensação, ao trabalhar com trechos de DNA conhecidos como marcadores moleculares, agora eles podem encontrar as bases genéticas da diversificação das espécies. Um mecanismo de formação de novas espécies que vem ganhando reconhecimento entre os pesquisadores é a possibilidade de espécies de plantas e animais geneticamente próximos entre si cruzarem naturalmente e gerarem híbridos férteis.

Antes essa ideia era pouco aceitável porque, em geral, espécies diferentes apresentam número distinto de cromossomos, estruturas no interior das células que contêm os genes. Essa diferença poderia inviabilizar o desenvolvimento do embrião, já que cada cromossomo que veio do macho precisa estar alinhado com um equivalente que veio da fêmea na hora de a célula fertilizada se dividir. Sem esse alinhamento, na maior parte das vezes a célula não se reproduz e morre. Mas há exceções, que parecem ser menos raras do que se imaginava. O cruzamento entre plantas – ou animais – de espécies próximas pode gerar seres que, apesar de híbridos, são férteis, ainda que na fase inicial de multiplicação celular alguns cromossomos não encontrem o respectivo par. Se tiverem tempo e condições ambientais favoráveis, esses híbridos podem gerar espécies diferentes das que lhes deram origem.

Hoje a palavra “híbrido” não define só seres estéreis como a mula, resultado do cruzamento de jumento com égua, mas também seres férteis como as orquídeas da mata atlântica mantidas em um dos viveiros do Instituto de Botânica de São Paulo. O híbrido, com 38 cromossomos, resulta do cruzamento natural entre duas espécies selvagens, Epidendrum fulgens, com 24 cromossomos, e Epidendrum puniceolutem, com 52. Externamente, as diferenças são sutis. As flores das chamadas plantas parentais são vermelhas ou amarelas. Já as das híbridas podem ser alaranjadas com pontos vermelhos.

Só a genética não basta para reconhecer os híbridos férteis. Eles agora são identificados com relativa facilidade porque, além de comparar o número de cromossomos, os especialistas examinam, inicialmente, os aspectos mais visíveis dos ambientes onde os híbridos e as espécies que lhes deram origem vivem. Depois entram na história da paisagem, estudando os mapas geológicos e de variações climáticas, que indicam se deslocamentos de blocos de rochas, tremores de terra ou variações prolongadas de chuva ou temperatura aproximaram ou afastaram populações de plantas ou animais, beneficiando ou não a formação de novas espécies.

No caso das orquídeas, os híbridos viviam tanto na restinga, ambiente típico da E. puniceolutem, quanto nas dunas, onde E. fulgens é encontrada. “Essa versatilidade sugere que algumas regiões do genoma podem ser trocadas entre essas espécies, conferindo ao híbrido capacidade maior de aproveitamento do hábitat”, diz o botânico Fábio Pinheiro, pesquisador associado do Instituto de Botânica de São Paulo. “Provavelmente a hibridação natural é uma das explicações da elevada diversificação do gênero Epidendrum, constituído por cerca de 1.500 espécies.”

Por precaução, em uma apresentação no Kew Botanic Gardens, de Londres, em maio de 2009, Pinheiro não mencionou o número de cromossomos dos híbridos, com medo das reações. “Mas os especialistas em orquídeas do Kew perguntaram e, quando viram, não acreditaram. Disseram que havia algo errado, mas depois aceitaram”, conta. A visão predominante é que espécies diferentes não cruzam naturalmente e que os híbridos que porventura se formem são estéreis. O argumento usado é que as células germinativas não conseguiriam formar descendentes viáveis.

No entanto, a maioria das plantas resulta de hibridações naturais ou induzidas entre espécies próximas, lembra Fábio de Barros, coordenador do projeto no Instituto de Botânica. A hibridação induzida é o que faz aparecerem espécies únicas de orquídeas e de plantas usadas na alimentação, como o milho e a cana-de-açúcar. Normalmente os híbridos apresentam alguma vantagem – no caso dos alimentos, são mais resistentes a doenças e mais produtivos do que as espécies puras. “Darwin já tinha escrito que os híbridos podem ser estéreis ou férteis, mas não tinha como provar, porque não havia marcadores moleculares para identificar as assinaturas genéticas de híbridos férteis”, diz Barros. “Aparentemente a hibridação é bastante comum e parece ter um papel muito mais importante na evolução do que imaginamos.”

Os botânicos já viram outros casos. As orquídeas do gênero Ophrys, da região do Mediterrâneo, formam híbridos de alta fertilidade. O cruzamento entre duas plantas baixas com flores amarelas da Europa e dos Estados Unidos, Senecio squalidus e S. vulgaris, originou um híbrido que atrai mais polinizadores e poderia gerar mais frutos que as espécies que lhe deram origem.
Espaços misturados - Animais também formam híbridos férteis. O geneticista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Thales Freitas observou que duas espécies de roedores subterrâneos conhecidos como tuco-tucos – a Ctenomys minutus, com 42 a 50 cromossomos, e a C. lami, com 54 a 58 cromossomos – são capazes de cruzar e às vezes gerar filhotes férteis. O resultado depende da origem do macho e da fêmea. Se a fêmea é da espécie Ctenomys minutus e o macho um Ctenomys lami, a prole pode ser fértil. A combinação inversa, machos da Ctenomys minutus cruzando com fêmeas da Ctenomys lami, leva a híbridos estéreis. Pererecas da mata atlântica do gênero Phyllomedusa passam por situações semelhantes. Na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e na Universidade do Porto, em Portugal, Tuliana Brunes estuda a formação de espécies de Phyllomedusa, a identificação genética dos híbridos e as origens históricas das zonas híbridas.
Os lugares mais prováveis em que os híbridos podem surgir são os espaços que reúnem populações de espécies próximas de plantas ou animais que antes viviam separadas. “Temos encontrado híbridos com mais frequência nas zonas de transição ecológica, os chamados ecótonos, que combinam dois tipos de vegetação e favorecem o encontro de populações de plantas e animais antes geograficamente distantes”, diz João Alexandrino, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Anos atrás, quando estava na Universidade da Califórnia em Berkeley, Estados Unidos, Alexandrino verificou esse fenômeno estudando híbridos férteis resultantes do cruzamento de espécies aparentadas de salamandras das matas próximas aos rios da Califórnia. Agora ele, Tuliana e Célio Haddad, da Unesp, verificaram que as pererecas formam híbridos onde dois tipos de mata atlântica, uma mais úmida e outra mais seca, se combinam no interior paulista. Os híbridos de orquídeas e de tuco-tucos também estavam em espaços ocupados por grupos de espécies que passaram a conviver provavelmente por causa de variações climáticas, que uniram áreas antes isoladas ou forçaram a migração de plantas e animais ao longo de milhares de anos.

A consequência dos processos que levaram à separação das espécies, favorecendo o cruzamento ou hibridação entre espécies próximas, é que florestas de biodiversidade elevada como a mata atlântica tornam-se “um caldeirão de novas espécies em contínua transformação”, na definição de Nuno Ferrand, da Universidade do Porto. “A riqueza em diversidade biológica não é só o número de espécies, mas também o de processos que podem dar origem a novas espécies”, diz Clarisse Palma da Silva, do Instituto de Botânica.

O mecanismo mais conhecido de formação de novas espécies de animais ou plantas consiste no acúmulo de mutações genéticas nos descendentes de uma mesma espécie. Agora se vê que novas espécies podem resultar também do agrupamento de populações de espécies diferentes que antes viviam separadas. Tudo resolvido? Longe disso. “As regras de surgimento e diferenciação das espécies não estão todas claras, porque a evolução é um processo contínuo, que segue por caminhos diferentes, por longos períodos de tempo”, disse Craig Moritz, biólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley.
Efeitos do isolamento - Um dos princípios que sobrevivem desde Dar-win é que o isolamento favorece a diversidade genética e a diferenciação de espécies, ao longo de milhares ou milhões de anos. Um dos exemplos mais conhecidos são as duas espécies de jararacas exclusivas de ilhas – a Bothrops insularis, que só vive na ilha de Queimada Grande, e a Bothrops alcatraz, da ilha de Alcatrazes, a menos de 50 quilômetros de distância, no litoral sul paulista – que começaram a se diferenciar ao se isolar, cada uma em sua ilha, há cerca de 18 mil anos

Pode haver muito mais escondido por aí. Os trabalhos de Ana Carolina Carnaval, bióloga brasileira atualmente na Universidade da Cidade de Nova York, indicam que, na mata atlântica, as variações de clima (do seco ao úmido) e de altitudes (de zero a 1.600 metros) ao longo de uma faixa litorânea de 5 mil quilômetros favoreceram o isolamento, o surgimento e o desenvolvimento de novas espécies, em uma intensidade maior que na Amazônia, cujas variações de clima e relevo não são tão intensas. Essas áreas isoladas que separam e protegem plantas e animais formam os chamados refúgios, trechos de mata que sobreviveram a intensas variações climáticas nos últimos milhares de anos e levaram à redução das matas próximas, com a consequente eliminação das populações de animais que ali viviam.

Luciano Beheregaray, biólogo brasileiro que leciona nas universidades Flinders e Macquarie, na Austrália, verificou que os Estados Unidos, o Reino Unido e a França lideram a crescente produção científica mundial sobre essa área, chamada filogeografia, que concilia análises genéticas, geográficas, geológicas e históricas. Em seu levantamento, o Brasil, mesmo sendo o país mais rico em biodiversidade, ocupou o 15º lugar entre os 100 países examinados.

“Podemos ir muito além, fazendo análises mais completas de nossos dados, em vez de morrer na praia”, alertou Célio Haddad. “Coletamos os dados, mas são os especialistas de outros países que os analisam. Deveríamos ser líderes nessa área, não estar a reboque”.

Artigo científicoPINHEIRO, F. et al. Hybridization and introgression across different ploidy levels in the Neotropical orchids Epidendrum 
fulgens and E. puniceoluteum. Molecular Ecology. v. 19, n. 18. p. 3981-94. 2010.

Saiba Essa para o ENEM - Teste poderá diagnosticar, ao mesmo tempo, até 100 doenças

Uma placa com 100 poços; cada poço com 100 tipos diferentes de esferas de 5 micrômetros de diâmetro; 2 mil cópias de cada tipo de microesfera; e um equipamento que separa as microesferas individualmente, identifica o tipo de cada uma e verifica se são positivas ou negativas: estes são os elementos que compõem um novo sistema de diagnóstico molecular – chamado microarranjo líquido – capaz de testar, ao mesmo tempo, até 100 indivíduos para até 100 doenças. E os resultados ficam prontos em cerca de 30 minutos. Este projeto surge como desdobramento de uma importante iniciativa de nacionalização de insumos e testes para diagnóstico liderada pelo Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Para atingir este objetivo, diferentes instituições de ciência e tecnologia se uniram para nacionalizar a produção de testes para diagnóstico e também para investir no desenvolvimento de novos produtos, com base em plataformas de vanguarda neste campo.
 Representação esquemática da ligação de moléculas às microesferas, da obtenção de diferentes fluorescências nas microesferas e de sua avaliação simultânea em microarranjos líquidos (esquema baseado em ilustrações desenvolvidas por Luminex Corporation) Representação esquemática da ligação de moléculas às microesferas, da obtenção de diferentes fluorescências nas microesferas e de sua avaliação simultânea em microarranjos líquidos (esquema baseado em ilustrações desenvolvidas por Luminex Corporation) 
Formam uma rede de pesquisa e desenvolvimento tecnológico o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos/Fiocruz), o Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz Paraná), o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP). Todos estão alocando recursos humanos e tecnológicos para este desenvolvimento.
No microarranjo, cada tipo de microesfera tem uma cor específica e pode ser revestido com proteínas (ou material genético) de um determinado patógeno (vírus ou microrganismos causadores de doenças). Dessa forma, como há 100 tipos de microesferas (de 100 cores distintas), o sistema pode testar até 100 patógenos diferentes de uma só vez – cada tipo (ou cor) de microesfera corresponde a um determinado patógeno. Em cada poço da placa, as microesferas se misturam com o soro de um indivíduo diferente – como há 100 poços por placa, até 100 pessoas podem ser testadas por vez.
Se um indivíduo foi infectado por um ou mais patógenos, seu soro apresenta anticorpos contra tais patógenos. Os anticorpos, então, reconhecem e se ligam às proteínas dos patógenos encontradas na superfície das respectivas microesferas, formando complexos anticorpo+microesfera. Em seguida, uma terceira classe de molécula é adicionada ao poço: sua função é reconhecer e se ligar aos complexos anticorpo+microesfera – a ligação desta terceira molécula caracteriza uma microesfera como positiva.
Por fim, todas as microesferas de cada poço são analisadas por um equipamento que emite dois tipos de raios laser: o primeiro identifica o tipo (ou a cor) da microesfera, enquanto o segundo verifica se ela positiva (contém o anticorpo e, portanto, houve infecção) ou negativa (não contém o anticorpo e, portanto, não houve infecção). Uma quantidade significativa de microesferas positivas de um ou mais tipos num poço significa que aquele indivíduo foi infectado pelos patógenos correspondentes.
A descrição do método e de seus mecanismos microscópicos é difícil, mas todo esse processo de diagnóstico demora apenas cerca de meia hora. Num primeiro momento, os pesquisadores estão estudando o uso do microarranjo líquido para o desenvolvimento de multitestes diagnósticos para programas do Ministério da Saúde. O estudo já ultrapassou a etapa de bancada de laboratório, já tendo obtido a prova de conceito. Atualmente, está em fase de desenvolvimento de protótipo, incluindo sua automação. “A expectativa é que tenhamos um protótipo até o final deste ano”, adianta o pesquisador Marco Krieger, do ICC e do IBMP. Estão previstos para o próximo ano os estudos piloto e multicêntrico, necessários à validação e ao registro do produto junto à Agência Nacional de Vigilânica Sanitária (Anvisa). 
(Fonte: Disponível em http://www.fiocruz.br. Acessado em 12 de jul. 2011 )

Pesquisadores da USP acham a origem da carne do McDonald's

O Big Mac, principal e mais conhecido produto da rede de fast-food McDonald's,  presente em mais de 100 países, foi o objeto de estudo da .... Foto: Getty Images
O Big Mac foi o objeto de estudos de pesquisadores da USP que buscavam investigar a origem da carne dos lanchesFoto: Getty Images

As características culturais da alimentação mundial, pesquisadores do Laboratório de Ecologia Isotópica do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP viajaram o mundo para analisar o Big Mac, principal e mais conhecido produto da rede de fast-food McDonald's, que está presente em mais de 100 países. "O lanche, considerado o carro-chefe do McDonald's, funciona como um poderoso traçador do sistema de produção de carne dos países. O hambúrguer fornece diversas e variadas informações", informa o pesquisador Luiz Antonio Martinelli, responsável pela pesquisa divulgada pela USP.
Para descobrir onde e como é produzido o principal produto do Big Mac, o hambúrguer, a pesquisa rastreou a cadeia alimentar do gado. Martinelli chegou à conclusão que, apesar de o Big Mac ser uma comida global, seu sabor é local, pois o hambúrguer é originário do rebanho de cada país. "Mas isso não ocorre no mundo todo. Os isótopos estáveis do carbono e do nitrogênio da carne contida em cada um dos Big Macs estudados mostraram, por exemplo, que o lanche consumido no Japão é proveniente da Austrália, com gado alimentado com gramíneas do tipo fotossintético C4".
Esta conclusão foi baseada no fato que as carnes dos lanches japoneses tinham uma razão isotópica do carbono-13/carbono-12 mais elevada do que os esperados num país baseado em uma agricultura de ciclo C3 (norma que caracteriza a forma como a planta faz sua fotossíntese). O fato comprova que o Japão importa carne da Austrália, onde prevalece o modo fotossintético C4 da lavoura, ou seja, das plantas que suportam altas luminosidades, fato que não ocorre no país nipônico.
Esta pesquisa permitiu chegar a três conclusões. "A primeira é que com um simples hambúrguer é possível rastrear o que o gado come pelo mundo todo. A segunda nos confere a possibilidade de estabelecer como carnes produzidas em diferentes países viajam pelo mundo. E a terceira é que, por uma questão de mercado, o igual não é tão semelhante assim", relata Martinelli, que empregou o conceito "glocal" (global + local) para caracterizar o Big Mac.
É curioso que até existe um índice econômico que calcula o preço do Big Mac em todos os países em que é consumido, com o intuito de medir o valor de uma moeda em relação ao dólar, o Big Mac Index. "O famoso lanche do McDonald's tem a capacidade de estar, ao mesmo tempo, atualizado ao sistema mercadológico das empresas globais sem perder a influência cultural imposta pelo mercado local", conclui o pesquisador.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

UM POSSÍVEL TEMA PARA O ENEM - Teste da lei do spray: RS libera e SP restringe vendas a jovens

Pouco mais de um mês após ter entrado em vigor, a lei federal que proíbe a venda de tinta spray para menores de 18 anos, ainda não "pegou" em todo o País. Para testar se a nova regra está sendo obedecida, a reportagem do Terra acompanhou dois adolescentes, que percorreram 12 lojas de São Paulo e de Porto Alegre (RS) para tentar adquirir os tubos, que nas mãos de vândalos destroem e mancham patrimônios das cidades.
Os resultados dos testes mostraram que as capitais paulista e gaúcha tomam rumos diferentes quanto ao cumprimento da legislação, que, além do RG, exige a emissão de nota fiscal com o nome do comprador. Os paulistanos parecem estar seguindo à risca a nova regra, já que cinco dos seis estabelecimentos visitados pediram o documento ao adolescente. No Sul, no entanto, nenhuma loja barrou a tentativa de compra, deixando o caminho livre para a depredação generalizada.
Com autorização dos responsáveis, os jovens não efetivaram as compras, mas conversaram com os vendedores e chegaram até o caixa, mas desistiam de levar na última hora, não desobedecendo, portanto, a lei.
Paulistas respeitam norma
No teste de São Paulo, o jovem de 15 anos percorreu lojas em diferentes ruas da região sul do município. Apenas um estabelecimento, na rua Fagundes Filho, no bairro Jabaquara, ofereceu opções e em nenhum momento solicitou o RG. Nessa loja, o vendedor mostrou três marcas diferentes e várias opções de preço para as latas. A abordagem durou menos de cinco minutos e, durante esse tempo, o funcionário sequer mencionou a proibição da lei.
Na mesma região, na rua Miguel Estefano, funcionários de três lojas lembraram a lei pouco depois de o rapaz demonstrar interesse pela compra. Em um dos estabelecimentos, o vendedor confirmou a disponibilidade das latas de tinta, mas em seguida questionou o jovem sobre sua idade. " - Você é menor?" " - Sou". "- Então, não pode". Diante da insistência, o funcionário confirmou que a lei proíbe a venda para menores e que sem RG não seria possível efetuar a compra.
Uma loja de tintas na avenida Jabaquara foi o último endereço visitado. Tão logo o rapaz perguntou sobre o produto, o vendedor o questionou sobre o RG e também demonstrou seguir a lei. Mesmo diante da insistência do garato, o funcionário confirmou que não havia possibilidade de venda sem apresentação do documento de identidade.
Gaúchos desconhecem lei
Em Porto Alegre, o jovem de 16 anos não teve qualquer dificuldade e poderia ter levado quantos tubos quisesse. "Capaz", disse uma das vendedoras com um inconfundível sotaque e expressão gaúchas, ao responder sobre a necessidade de algum tipo de documento. Em nenhum dos locais visitados pelo adolescente foram cumpridas as normas. Uma das lojas ficava a menos de 100 m de um posto da Polícia Militar.
Nas visitas, nenhum dos vendedores parecia saber da lei. Na sexta loja, a vendedora foi a mais prudente de todas e consultou os demais sobre a venda logo após o adolescente dizer que tinha 16 anos. "Ele tem 16 anos, dá para vender isso para ele?", perguntou. No entanto, apesar da precaução, ouviu do colega que não havia problema algum.
Nos primeiros locais visitados, a falta de preocupação foi tamanha que o menino passou a perguntar se algum documento era exigido. "Em todos os locais eles me venderiam sem nenhum problema", disse o adolescente.
De acordo com o chefe de operações da Guarda Municipal de Porto Alegre, Everton Luis Alves Silva, as pichações e outros tipos de depredações do patrimônio público são um problema constante. Para reprimir essa prática foi criado, em 2006, o serviço do Disque-Pichação que nesses mais de 4 anos de atuação recebeu 1.265 denúncias, que resultaram em 247 detenções.
Segundo ele, as zonas norte e leste de Porto Alegre são as mais problemáticas da cidade, pela atuação de grupos ou gangues conhecidos como bondes, que demarcam territórios através das pichações. E a competição entre os grupos é tamanha, que os jovens pintam os locais mais absurdos para mostrar que "podem mais" que o rival. O resultado disso são prédios completamente manchados de cima a baixo e monumentos históricos depredados. Nem os principais símbolos da cidade, o Laçador e a chaminé do Gasômetro escaparam das garras dos pichadores.
Sobre o perfil dos infratores, Alves entre as mais de 200 detenções realizadas, 112 tinham a participação de adolescentes de classe média, sem passagens pela polícia. A pichação é considerado crime ambiental, cuja pena varia de 3 meses a 1 ano, além de multa.

CIÊNCIA REJEITADA

         Jovens mostram cada vez menos interesse em seguir carreiras científicas. Uma clássica pergunta que se faz e se fez para todo mundo: O que você vai ser quando você crescer? Quanto mais desenvolvido o pais menor é a probabilidade de do estudante responder "cientista". Na contramão do incentivo ao desenvolvimento científico que tem crescido em todo o mundo nas últimas décadas, o interesse dos jovens em se tornarem pesquisadores apresenta uma tendência de queda.
         Vários fatores podem explicar essa tendência, mas o principal desafio para revertê-la está em mudar a forma como os temas científicos são apresentados na educação básica. Senão corre-se o risco de perder-se vários "Pelés" da Ciência cita o pesquisador Jorge Guimarães, presidente da Capes
          O principal indicador mundial do desinteresse dos estudantes por ciência faz parte de um projeto comparativo que envolve mais de 45 países e recebe o nome de ROSE (acrônimo, em inglês, Relevância do Ensino de Ciências) O estudo investiga por meio de quetionários apliocados em estudantes na faixa dos 15 anos de idade, o que os jovens que estão concluindo o ensino médio consideram importante no parendizado em ciência e tecnologia.
          Esse questionário está sendo aplicado para 3,6 mil alunos em 120 escolas de todas as unidades federativas e deve ser concluido no final de 2011. Os resultados obtidos na Itália e na Inglaterra demostram desinteresse tanto dos estudantes do sexo feminino quanto do masculino em relação a disciplina de ciências.
         Nos países mais desenvolvidos verifica-se que os aspectos que os alunos mais valorizam em um futuro emprego está "usar meus talentos e minhas capacidades" e "ganhar muito dinheiro", características que não coincidem com a visão que têm da profissão cientista.
         O que chama atenção dos pesquisadores é que, quanto menor o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de um páis, mais seus estudantes demonstram interesse em temas ligados a ciência e tecnologia. Segundo, Justin Dillon (King's College de Londres) "é possível que jovens de nações pobres encarem a ciência como solução para os problemas da sociedade", mas ainda não é possível afirmar com precisão o motivo dessa diferença de mentalidade entre estudantes de países com indice de desenvolvimento distintos.
        No Brasil, uma pequena amostra do estudo mostra que o interesse dos alunos de Tangará da Serra e de São caetano do Sul em ser seguir a carreira de cientista é distinto. De forma semelhante ao que foi observado na comparação entre países ricos e pobres, o estudo mostrou que quem convive diariamente com avanços científicos e tecnológicos - caso dos sancaetanenses - tem maior facilidade de lidar com matérias de ciência durante a educação básica, mas, por outro lado, tende a ter uma aversão maior a trabalhar com pesquisa no futuro.
         Um dos motivos para essa rejeição à ciência estaria na forma como o conteúdo é apresentado aos alunos de educação básica. Os resultados do Rose revelam que os adolescentes, em geral, são mais influenciados popr professores de ensino fundamental e médioo na escolha do curso superior do que pela família ou amigos. Isso indica se conseguirmos formar bons professores de ciências, seria possível despertar mais vocações científicas e atrais mais gente para essas carreiras.
         Segundo o PCN de Ciências: o ensino de ciências naturais é um espaço privilegiado em que as diferentes explicações sobre o mundo, os fenômenos da natureza e as transformações produzidas pelo homem podem ser expostos e comparadas. Os alunos podem compreender a natureza como um todo dinâmico, sendo o ser humano parte integrante e agente de transformações do mundo em que vive. O corpo humano, também pode ser estudado e visto não como uma máquina, pois cada ser humano é único como único é seu corpo. Nessa perspectiva, a área pode contribuir para a formação da integridade pessoal e da auto-estima, da postura de respeito ao próprio corpo e ao dos outros, para o entendimento da saúde como um valor pessoal e social.
        Embora o modelo de ensino esteja ultrapassado, as escolas não são as únicas responsáveis por afastar os jovens das carreiras acadêmicas. O pesquisador tem que ter um foco específico sobre determinado assunto e hoje esta particularidade acabada não atraindo muito os estudantes uma vez que há uma quantidade crescente de estímulos que atrame os jovens, como a internet e os sítios de relacionamento e a telefone celular. O interesse por ciência vem logo cedo e deve perdurar pela vida.
       Segundo o pesquisador Justin Dillon, a principal mudança pedagógica que deve ser implantada nas escolas está no ensino das Ciências, que deveria envolver mais atividades práticas e de laboratório do que se restringir à sala de aula e basear-se esclusivamente em livros.
       Torna-se necessário que haja um estímulo adicional e que daqui a algumas décadas, quem sabe, a carreira de cientista desperte tanto interesse dos jovens tanto quanto a de artista ou de jogador de futebol. O futuro da Ciência depende disso (Texto extraído e adaptado Revista Ciência Hoje junho 2011)

Cogumelo que emite luz é encontrado no Brasil após 170 anos

O  Neonothopanus gardneri  é o maior fungo bioluminescente do Brasil e um dos maiores do mundo. Foto: Cassius V. Stevani/IQ/USP /BBC Brasil
Pesquisadores encontraram no Piauí um cogumelo que emite luz e que tinha sido avistado pela última vez há quase 170 anos. A pesquisa do grupo de cientistas da USP e das universidades americanas de San Francisco e de Hilo, no Havaí, será publicada na revista científica Mycologia.
O Neonothopanus gardneri é o maior fungo bioluminescente do Brasil e um dos maiores do mundo. "Já tinha encontrado alguns cogumelos que emitem luz no Brasil, mas menores, alguns do tamanho de um fio de cabelo", disse à BBC Brasil o professor Cassius Vinicius Stevani, do Instituto de Química da USP. "Este foi o maior, um grupo deles emite quantidade considerável de luz", afirmou.
"Flor de coco"
Em 1840, o cogumelo foi descoberto pelo botânico britânico George Gardner quando viu garotos brincando com o que pensou serem vagalumes nas ruas de uma vila onde hoje fica a cidade de Natividade, em Tocantins. Chamado pelos locais de "flor de coco", o fungo bioluminescente foi classificado como Agaricus gardeni e não foi mais visto desde então.
"Fiquei sabendo que existiam ainda fungos assim por volta de 2001. Nos anos seguintes, me chegavam relatos de Tocantins e Goiás de um cogumelo grande, amarelo, que emitia uma luz", diz Stevani. "Mas fotografia mesmo vi só em 2005, uma tirada no Piauí", afirma ele, que já participou de expedições noturnas para a coleta do cogumelo.
"As buscas acontecem em noites escuras, de lua nova, com as lanternas desligadas", explica. Curiosamente, o cogumelo ainda é conhecido popularmente em várias partes do país como "flor de coco". Existem 71 espécies de fungos que emitem luz, 12 delas estão presentes no Brasil.
A ciência ainda não desvendou o processo químico que permite que o fungo produza luz, nem a razão disso. Uma das teses consideradas é a de que a luz é emitida para atrair insetos noturnos, ajudando os fungos a dispersar seus esporos para a reprodução. Outra diz que a luz atrai insetos predadores que atacam insetos menores que se alimentam do fungo.
O Neonothopanus gardneri é o maior fungo bioluminescente do Brasil e um dos maiores do mundoFoto: Cassius V. Stevani/IQ/USP /BBC Brasil

sábado, 9 de julho de 2011

Preocupações com Novo Código Florestal

Pesquisadores ligados à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciência (ABC) apresentaram no final do mês de abril de 2011 em Brasilia, o documento O Código Florestal e a Ciência - Controbuições para o Diálogo. O documento traz sugestões para aperfeiçoamento do debate em torno do projeto de lei que propõe a alteração do código florestal (Vide resumo do Código floresta no blog http://biologiaprofessoroliveira.blogspot.com/). O documento traz sugestões para o aperfeiçoamento do debate em torno do projeto de lei que propõe a alteração do Código Florestal (PL 1876/99 e outros).
A revisao do código Florestal brasileiro temn preocupado pesquisadores e ambientalistas entre outros motivos pela redução da faixa de mata ciliar que pode ser diminuida de 30 m para apenas 15 m. Pesquisadores do programa Biota-Fapes, porf exemplo, avaliam que o Brasil estaria "arriscado a sofrer seu mais grave retrocesso ambiental em meio século, com consequências críticas e irreversíveis que irão além das fronteiras nacionais"
As novas regras reduzirão a restauralção obrigatória de vegetação nativa ilegalmente desmatada desde 1965. Com isso, "as emissões de dióxido de carbono poderão aumentar substancialmente" e, a partir de simples análises da relação espécie-área, é possível prever " a extinção de mais de 100 mi espécies, uma perda massiva que invalidará qualquer comprometimento coma conservação da biodiversidade".